Método Braile

Introdução

De acordo com GIL (2000, p.43), "o sistema braille é inscrito em relevo e explorado por meio do tato". "Ele consta da combinação de seis pontos em relevo dispostos em duas colunas de três pontos. O espaço ocupado por esses seis pontos é denominado de cela braille" (LEMOS et al, 1999, http://www.deficientesvisuais.org.br), que mede 6 ml de altura por 2 de largura, tamanho esse perfeitamente abrangido pela área sensível de um dedo e reconhecível pelos milhares de receptores ali localizados. Os pontos de cela são numerados da seguinte forma: coluna da esquerda: pontos 1, 2 e 3: de cima para baixo; coluna da direita: pontos 4, 5 e 6, também de cima para baixo, conforme ilustra a figura

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De acordo com os autores supracitados, as diferentes combinações desses seis pontos permitem sessenta e três combinações diferentes.

As dez primeiras letras do alfabeto latino (a-j) são formadas pelas diversas combinações possíveis dos quatro pontos superiores (1-2-4-5). Essas mesmas combinações, (na mesma ordem), assumem também as características dos valores numéricos 1-0, quando precedidos do sinal de número que é formado pelos pontos 3-4-5-6.

As dez letras seguintes são as combinações das dez primeiras letras, acrescidas do ponto 3 e formam a segunda linha de sinais. A terceira linha é formada pelo acréscimo dos pontos 3 e 6 às combinações da primeira linha.

No ocidente, vinte e seis sinais são utilizados para o alfabeto; dez para os sinais internacionais de pontuação, que correspondem aos dez símbolos da quinta linha, localizados na parte inferior da cela Braille (pontos 2-3-5-6). Os vinte e sete sinais restantes são destinados às especificidades de cada idioma (letras acentuadas, por exemplo) e para abreviaturas.

Doze anos após a invenção desse sistema, Louis Braille acrescentou a letra "w" ao décimo sinal da quarta linha, para atender às necessidades da língua inglesa.

Além da letra "w", são representadas também, no alfabeto braille, as letras "k" e "y" do alfabeto inglês e símbolos representativos de letras que não são usadas com acento.

Como a cela Braille tem dimensões fixas, tornou-se necessário a utilização de símbolos especiais para representar as letras acentuadas. Outra conseqüência da dimensão da cela é a representação de letras maiúsculas ou minúsculas (BRINI, 1991, p.173). Convencionou-se, então, utilizar um símbolo especial para representar as letras maiúsculas.

O Sistema Braille é utilizado por extenso, isto é, escrevendo-se a palavra letra por letra, ou de forma abreviada, adotando-se códigos especiais de abreviaturas para cada idioma ou grupo lingüístico. O Braille por extenso é denominado grau 1. O grau 2 é a forma empregada para representar, de maneira abreviada, as conjunções, preposições, pronomes, prefixos, sufixos, grupos de letras que são comumente encontradas nas palavras de uso corrente.

A principal razão do emprego da forma abreviada é reduzir o volume dos livros em Braille e permitir o maior rendimento na leitura e na escrita. Uma série de abreviaturas mais complexas forma o grau 3, que necessita de um conhecimento profundo do idioma, uma boa memória e uma sensibilidade tátil muito desenvolvida, por parte do leitor cego.

Uma página braille típica contém 26 a 28 linhas e 30 a 32 caracteres por linha.

Segundo BRINI (1991), desde sua criação, o braille não teve nenhuma modificação na sua estrutura básica. Esse sistema teve uma longa trajetória para implantar-se em todos os países do mundo. Sua difusão deve-se, principalmente, aos esforços das missões religiosas no oriente e ao notável empenho da UNESCO, para a divulgação e unificação do Braille.

Assim, o Sistema Braille aplica-se à estenografia 1, à música e às notações científicas em geral, sendo de extraordinária universalidade, pelo fato de poder exprimir diferentes idiomas e escritas.

Alfabeto

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Escrita

O aparelho de escrita, utilizado por Louis Braille, consistia de uma prancha , uma régua com duas linhas com janelas correspondentes às celas braille, que se encaixava nas extremidades laterais da prancha e o punção . O papel era introduzido entre a prancha e a régua, o que permitia à pessoa cega pressionando o papel com o punção escrever os pontos em relevo. Hoje as regletes têm uma variação de modelos e materiais e são largamente usadas pelos cegos" (BRINI, 1991, p.172).

De acordo com GIL (2000), o braille pode ser escrito através de dois tipos de equipamento: o conjunto manual de reglete e punção ou a máquina de datilografia Perkins-Braille (produzida no Brasil desde 1999). Atualmente, porém, existem também as impressoras braille, capazes de imprimir textos previamente digitados. As regletes, quer sejam modelos de mesa ou de bolso, consistem essencialmente de duas placas de metal ou plástico, com reentrâncias dispostas em quatro linhas numa parte e depressões correspondentes na outra (REVISTA VIVÊNCIA, 1996, p.34). Essas placas são fixas de um lado com dobradiças, de modo a permitir a introdução do papel.

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A placa superior funciona como a primitiva régua e possui os retângulos vazados correspondentes às celas braille. Diretamente sob cada retângulo vazado, a placa inferior possui, em baixo-relevo, a configuração da cela braille. Ponto por ponto, a pessoa cega, com o punção, forma o símbolo braille correspondente às letras, números ou símbolos desejados.

Na reglete, escreve-se o braille da direita para a esquerda, na seqüência normal de letras ou símbolos. A leitura é feita normalmente da esquerda para a direita, apalpando-se os relevos feitos pelo punção, normalmente com a ponta do dedo indicador. Conhecendo-se a posição dos pontos correspondentes a cada símbolo, torna-se fácil tanto a leitura quanto a escrita feita em regletes. A escrita na reglete pode tornar-se tão automática para o cego quanto a escrita com o lápis para a pessoa de visão normal, diferenciando-se, porém, quanto ao desgaste físico, que, no caso do braille, é maior.

Além da reglete, o braille pode ser produzido através de máquinas especiais de datilografia braille, que contêm sete teclas. Cada tecla corresponde a um ponto e, a outra, ao espaço. O papel é fixado e enrolado em rolo comum, deslizando, normalmente, quando pressionado o botão de mudança de linha. O toque de uma ou mais teclas, simultaneamente, produz a combinação dos pontos em relevo, correspondente ao símbolo desejado. O braille é produzido da esquerda para a direita, podendo ser lido normalmente sem a retirada do papel da máquina. Existem diversos tipos de máquinas de datilografia braille, tendo sido a primeira delas inventada por Frank H. Hall, em 1892, nos Estados Unidos.

Hoje, as imprensas braille produzem livros a partir de matrizes de metal ou formulários contínuos, utilizando máquinas eletrônicas com sistemas informatizados. A impressão do relevo pode ser feita dos dois lados do papel ou da matriz. Esse é o braille interpontado: os pontos são dispostos de tal forma que a impressão de um lado não coincide com a impressão do outro, permitindo uma leitura corrente, um aproveitamento melhor do papel, reduzindo o volume dos livros transcritos.

Novos recursos para a produção do braille têm sido empregados de acordo com os avanços tecnológicos de nossa era. O braille, hoje, é produzido por equipamentos e sistemas informatizados.

Leitura

A maioria dos leitores cegos lêem, preferencialmente, com a ponta do dedo indicador de uma das mãos. Um grande número de pessoas, entretanto, que não são ambidestras em outras atividades, podem ler o Braille com as duas mãos. Algumas pessoas utilizam o dedo médio ou anular, ao invés do indicador. Os leitores mais experientes utilizam o dedo indicador da mão direita, com uma leve pressão sobre os pontos em relevo, o que lhes permite uma ótima percepção, identificação e discriminação dos símbolos braille. Esse fato acontece somente através da estimulação contínua dos dedos pelos pontos em relevo. Essa estimulação é mais forte quando se movimenta a mão ou mãos sobre cada linha escrita, num movimento da esquerda para a direita. Alguns leitores são capazes de ler cento e vinte e cinco palavras por minuto com uma só mão. Alguns outros, que lêem com as duas mãos, conseguem dobrar a sua velocidade de leitura, atingindo duzentas e cinqüenta palavras por minuto.

Em geral, a média atingida pela maioria de leitores é de cem palavras por minuto. É a simplicidade do Braille que permite essa velocidade de leitura. Os pontos em relevo permitem a compreensão instantânea das letras como um todo, uma função indispensável ao processo da leitura.

Para a leitura tátil corrente, os pontos em relevo devem obedecer às medidas- padrão e a dimensão da cela Braille deve corresponder à unidade perceptual tátil da ponta dos dedos. Todos os caracteres devem possuir a mesma dimensão, obedecendo aos espaçamentos regulares entre as letras e as linhas. A posição de leitura deve ser confortável, de modo que as mãos dos leitores fiquem ligeiramente abaixo de seus cotovelos.

Fonte: Sonza, Andréa Poletto. Acessibilidade de Deficientes Visuais aos Ambientes Digitais Virtuais . Dissertação (Mestrado). Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Programa de Pós-Graduação em Educação, Porto Alegre, 2004. 197f .

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Superinteressante

O alfabeto Braile contribuiu efetivamente para a comunicação entre cegos, pois aplica-se a qualquer língua, à estenografia e à música.

Ler no escuro. Quem já tentou sabe que é impossível. Mas foi exatamente a isso que um francês chamado Louis Braille dedicou a vida. Nascido em Coupvray, uma pequena aldeia nos arredores de Paris, em 1809, desde cedo ele mostrou muito interesse pelo trabalho do pai. Seus olhos azuis brilhavam de admiração ao vê-lo cortar, com extrema perícia, selas e arreios. Uma tarde, pouco depois de completar 3 anos, o menino começou a brincar na selaria do pai, cortando pequenas tiras de couro. De repente, uma sovela, instrumento usado para perfurar o couro, escapou-lhe da mão e atingiu o seu olho esquerdo. O resultado foi uma infecção que, seis meses depois, afetaria também o olho direito. Aos 5 anos, o garoto estava completamente cego.

A tragédia não o impediu, porém, de freqüentar a escola por dois anos e de se tornar ainda um aluno brilhante. Por essa razão, ele ganhou uma bolsa de estudos do Instituto Nacional para Jovens Cegos, em Paris, um colégio interno fundado por Valentin Haüy (1745-1822). Além do currículo normal, Haüy introduzira um sistema especial de alfabetização, no qual letras de fôrma impressas em relevo, em papelão, eram reconhecidas pelos contornos. Desde o início do curso, Baile destacou-se como o melhor aluno da turma e logo começou a ajudar os colegas. Em 1821, aos 12 anos, conheceu um método inventado pouco antes por Charles Barbier de la Serre, oficial do Exército francês.

O método Barbier, também chamado escrita noturna, era um código de pontos e traços em relevo impressos também em papelão. Destinava-se a enviar ordens cifradas a sentinelas em postos avançados. Estes decodificariam a mensagem até no escuro. Mas, como a idéia não pegou na tropa, Barbier adaptou o método para a leitura de cegos, com o nome de grafia sonora. O sistema permitia a comunicação entre os cegos, pois com ele era possível escrever, algo que o método de Haüy não possibilitava. O de Barbier era fonético: registrava sons e não letras. Dessa forma, as palavras não podiam ser soletradas. Além disso, o fato de um grande número de sinais ser usado para uma única palavra tornava o sistema muito complicado. Apesar dos inconvenientes, foi adotado como método auxiliar por Haüy.

Pesquisando a fundo a grafia sonora, Braille percebeu suas limitações e pôs-se a aperfeiçoá-la. Em 1824, seu método estava pronto. Primeiro, eliminou os traços, para evitar erros de leitura; em seguida, criou uma célula de seis pontos, divididos em duas colunas de três pontos cada, que podem ser combinados de 63 maneiras diferentes. A posição dos pontos na célula é esta ao lado.

As primeiras dez letras do alfabeto (de a a j) são formadas com os pontos 1,2,4 e 5. Precedidos de um sinal específico para indicar algarismos, os pontos adquirem valores numéricos, de 1 a 10 (veja ilustração). As letras de k a f resultam da adição do ponto 3 aos sinais das dez primeiras letras. Quando os pontos 3 e 6 são adicionados simultaneamente às cinco primeiras letras, surgem os símbolos das letras u,v,x,y,z; o w é representado pelos pontos 2,4,5 e 6. Com as combinações restantes, de acordo com o idioma, surgem os sinais de acentuação e pontuação. Em 1826, aos 17 anos, ainda estudante, Braille começou a dar aulas. Embora seu método fizesse sucesso entre os alunos, não podia ensiná-lo na sala de aula, pois ainda não era reconhecido oficialmente. Por isso, Braille dava aulas do revolucionário sistema escondido no quarto, que logo se transformou numa segunda sala de aula. A primeira edição do método foi publicada em 1829. No prefácio do livro, ele reconheceu que tinha se baseado nas idéias de Barbier.

O braile é lido passando-se a ponta dos dedos sobre os sinais em relevo. Normalmente usa-se a mão direita, com um ou mais dedos, conforme a habilidade do leitor, enquanto a mão esquerda pocura o início da outra linha. O braile é subdividido em três graus: o grau 1 é a forma mais simples, em que se escreve letra por letra; o grau 2 é a forma abreviada, empregada para conjunções, preposições e pronomes mais comumente usados, como, por exemplo, mas, de, você e por que; abreviaturas ainda mais complexas, como para -ista, -mente e -da-de, formam o grau 3, que exige ótima memória e tato muito desenvolvido.

Essas abreviações são necessárias para reduzir o tamanho dos livros e permitir maior rapidez na leitura. Mesmo assim, os livros são bastante volumosos: o Novo dicionário da língua portuguesa, edição reduzida, de Aurélio Buarque de Holanda, tem 35 tomos; o romance Gabriela, cravo e canela, de Jorge Amado, nove. O braile aplica-se a qualquer língua, sem exceção, e também à estenografia, à música - Braille, por sinal, era ainda exímio pianista - e às notações científicas em geral. Isso resulta do aproveitamento das 63 combinações em códigos especiais, que multiplicam as suas possibilidades. A escrita é feita mediante o uso da reglete, também idealizada por Braille: trata-se de uma régua especial, de duas linhas, com uma série de janelas de seis furos cada, correspondentes às células braile.

A régua desliza sobre uma prancheta onde está o papel, que é pressionado para formar os pontos em relevo com o punção - uma espécie de estilete. Com a reglete, escreve-se da direita para a esquerda, com os símbolos invertidos - algo mais fácil para os deficientes visuais do que se pode imaginar. A leitura é feita normalmente, da esquerda para a direita, no verso da folha. Além da reglete, o braile pode ser escrito com uma máquina especial, de sete teclas - seis para os pontos e uma para o espacejamento. A máquina foi inventada pelo americano Frank H. Hall, em 1892. Louis Braille morreu de tuberculose em 1852, com apenas 43 anos. Temia que seu método desaparecesse com ele, mas, finalmente, em 1854 foi oficializado pelo governo francês.

No ano seguinte, foi apresentado ao mundo, na Exposição Internacional de Paris, por ordem do imperador Napoleão III (1808-1873), que programou ainda uma série de concertos de piano com ex-alunos de Braille. O sucesso foi imediato e o sistema se espalhou pelo mundo. Em 1952, o governo francês transferiu os restos mortais de Braille para o Panthéon, em Paris, onde estão sepultados os heróis nacionais.

No Brasil, o método começou a ser adotado em 1856, e as duas únicas instituições que imprimem em braile são a Fundação para o Livro do Cego, de São Paulo, e o Instituto Benjamin Constant, do Rio de Janeiro: juntas editam cerca de 25 títulos por mês, num total de 4 mil volumes - aquém das necessidades. Por lei, são obrigadas a distribuí-los gratuitamente aos 750 mil cegos que se estima existirem no país.

Silvio Atanes

Correios

Segundo notícia do site dos Correios (...), recentemente os cegos do Brasil passaram a dispor de um serviço postal pioneiro que lhes permite comunicar-se, por escrito, com as pessoas que enxergam. O Ministério das Comunicações e a Diretoria Regional dos Correios de Minas Gerais perceberam a importância e a necessidade de se criar o Serviço Postal Braille, que representa grande avanço na luta pela socialização dos deficientes visuais. A iniciativa valoriza a comunicação, divulgando e ampliando o acesso ao Braille - instrumento que permite ao cego ser mais cidadão.

A transcrição é realizada pela recém-inaugurada Central de Braile dos Correios, e pode ocorrer em ambos os sentidos (tinta para braile e braile para tinta). Ela inicia suas atividades com capacidade de transcrição de 1000 mensagens por mês.

Se você tem um amigo, colega ou parente deficiente visual, poder enviar material por escrito para ele - desde um cartão de felicitações até uma carta contando como vai a família distante - pode ser uma gentileza rara e inesperada. Se você estiver interessado, basta enviar sua correspondência para a Central, que se encarrega da transcrição e em seguida encaminha ao destinatário. O serviço é gratuito, assim como o envio para a central de transcrições. Apenas é cobrado o valor da postagem para o destino desejado, ou seja, o mesmo valor de uma correspondência normal.

As correspondências a serem transcritas deverão ser enviadas a partir de qualquer agência dos Correios de todo o Brasil, para o seguinte endereço: Av. Afonso Pena, 1270 - sala 202 - Belo Horizonte/MG - Cep 30130-971 - Central de Braile dos Correios. Peça orientação no balcão de sua agência!

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